Sociedade global deve pressionar EUA em favor de ciberativistas

09/09/2022

Julian Assange (esquerda), fundador da WeakLeaks, e Edward Snowden, ex-agente da CIA 

* Por Marcello Riella Benites

Os temas mais importantes são esquecidos em nosso tempo saturado de tecnologia, polarização, desigualdade e desinformação via redes sociais. Por exemplo, o que têm em comum Julian Assange e Edward Snowden? Possivelmente, para a maioria das pessoas, venha à mente algo vago como espionagem cibernética.

Trata-se de personagens que aplicaram duros golpes contra o monitoramento de nossas vidas pelo serviço secreto dos EUA. Utilizando conhecimento tecnológico, os dois são emblemáticos na defesa da liberdade de expressão. Estão sendo perseguidos por terem denunciado crimes de guerra e invasão da privacidade de milhões de pessoas, inclusive, chefes de Estado.

São representantes da luta contra o projeto de muitas nações poderosas para exercer um total controle sobre a sociedade por meio de câmeras, drones e dos nossos próprios celulares. O jornalista australiano Julian Assange é o fundador do WeakLeaks, plataforma que emprega tecnologia de ponta para obter e divulgar documentos oficiais comprometedores.

Países traem ideais democráticos e voltam-se ferozmente contra quem os desmascara. Assange corre o risco de condenação a 175 anos de cárcere pela divulgação, há 12 anos, de mais de 700 mil arquivos secretos de ações estadunidenses no Oriente Médio. Ele está atualmente num presídio em Belmarsh, perto de Londres, onde recorre contra sentença de extradição para os Estados Unidos.

Capitão América

Já Edward Snowden, ex-agente da CIA, tem a história contada no filme "Snowden, Herói ou Traidor", dirigido por Oliver Stone, disponível no YouTube. Como um Capitão América da vida real, acreditava que seu país era guardião mundial da liberdade. Decepcionou-se, e em 2013 entregou documentos confidenciais ao jornalista norte-americano Glenn Greenwald, então atuante no jornal britânico The Guardian.

As informações denunciavam a invasão da vida privada de milhares de autoridades de outros países ao redor do mundo, inclusive, com grampeamento do celular da ex-presidenta Dilma Rousseff. Em fuga, ele conseguiu asilo na Rússia, onde obteve autorização de residência permanente em 2020.

Tanto Assange quanto Snowden representam a resistência àquela que será a maior força opressora do século 21, a vigilância tecnológica, tão invasiva quanto despercebida, exercida por meio dos nossos dispositivos eletrônicos. Os cidadãos e as instituições, a começar pela imprensa, deveriam realizar uma pressão constante aos líderes mundiais para que os EUA cessem a perseguição aos ciberativistas.


* Marcello Riella Benites, autor do livro "A origem da Mídia Ninja no discurso dos jornalistas", é membro do Coletivo de Jornalistas de Macaé (RJ) e Região e realiza a pesquisa "Enfrentamento da Crise da Profissão de Jornalista" no Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - Uenf.

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