"Um cão que late na noite" compara os ganidos caninos com a dor de crianças abandonadas

* Por Marcello Riella Benites

O protagonista do romance "Um cão late na rua" (Penalux), do professor e jornalista Sérgio Arruda de Moura, é atormentado pela ferida não cicatrizada da perda do filho de 11 anos, assassinado por outra criança.  "Joaquim de Assis - esse nome não é casual - tem dificuldade de viver suas memórias por nunca ter podido dar-lhes um termo, já que não houve nem havia como fazer justiça por ser o infrator um menor de idade", explica Sérgio.

Consagrado na academia, analista do discurso e professor de pós-graduação na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, em Campos dos Goytacazes - RJ, o autor nos entrega seu primeiro romance. Na obra, conhecemos Assis que, 20 anos depois, revive a sua tragédia pessoal quando a jovem jornalista Isadora resolve desenterrar o caso. Mas por que alguém não buscaria a punição para o algoz do próprio filho?

Joaquim tem o perfil dos velhos jornalistas que, inspirados no iluminismo, acreditam na busca do bem pelo via da razão. "Que país é esse que não consegue educar nem um menino?", pergunta-se o protagonista imerso num mar de angústia. A obra discute as tecnologias, as mudanças no jornalismo, sua ética e desencantos.

No desenrolar da história, bebemos e passeamos com Joaquim, um "flaneur", no centro do Rio. Pegamos a barca e vamos para Niterói. Passamos pela Praia das Flechas e subimos a rampa que leva ao Museu de Arte Contemporânea - MAC. O leitor até imagina o barulho das ondas como paisagem sonora, e ele sempre observando as pessoas... Chega a causar desconforto o que "descobre", ou melhor,supõe sobre elas.

Participa da história outro colega jornalista, Honorato, uma espécie de alterego ou mentor, sempre presente nos diálogos imaginários, ou acaloradas discussões sobre o sentido da profissão na redação da Hidra, revista na qual trabalham.

Numa flanerie também literária, Arruda nos presenteia com referências a Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Honoré de Balzac, Manoel Bandeira, Nelson Rodrigues e outros. Não faltam reflexões filosóficas, sociológicas e éticas. Da ecologia às questões de gênero, poucos temas atuais ficam fora do imaginário de Assis. Neste livro, Sérgio Arruda nos fala de tragédia e medo, mas também de idealismo, amor e esperança.

FICHA TÉCNICA:

Livro: Um cão late na noite

Autor: Sérgio Arruda de Moura

Número de páginas: 210

Editora: Penalux

Ano de publicação: 2022